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 | 11/04/2003 15h13min

Bagdá às escuras é palco de saques e desordem

Norte-americanos tentam estruturar o policiamento na capital iraquiana

Treinados para dizimar os inimigos no campo de batalha, os fuzileiros navais dos Estados Unidos começam, depois da queda de Saddam Hussein, a executar a tarefa de policiar as ruas sem lei de Bagdá. A população toma conta das ruas: saques têm como alvos prédios governamentais, mercados e até hospitais.

Nesta sexta, dia 11, civis se amontoavam pelas ruas da capital iraquiana carregando grandes quantidades de dinheiro do Iraque, agora sem qualquer valor. Há vários edifícios em chamas e tiroteios pela cidade. Falta luz, e as pessoas têm medo.

A gratidão aos EUA, demonstrada por vários iraquianos pela derrubada de Saddam, pode evaporar, se os norte-americanos não fizerem um bom trabalho como policiais.

– Agora estamos um pouco fora da zona em que nos sentimos confortáveis, mas não estamos despreparados ou destreinados. Se eu precisar dar segurança a uma mercearia para que ela não seja roubada, farei isso. Por outro lado, ainda há gente querendo nos matar, então não podemos baixar a guarda – disse o tenente-coronel dos marines Jim Chartier, perto do Monumento aos Mártires.

O trabalho de policiamento pode ser frustrante para jovens treinados principalmente para matar. Equipamentos para garantir a ordem certamente os marines têm, já que a visão de tanques e canhões devem desestimular potenciais saqueadores. Mas os próprios operadores dos tanques admitem que esse não é o melhor recurso para controlar uma população nervosa.

Nesta sexta, os marines discutiam a possibilidade de impor toque de recolher numa parte de Bagdá e implantar patrulhas também no período noturno.

O tamanho da cidade complica a tarefa, já que os EUA não têm um contingente que possa vigiar simultaneamente toda a capital, de 5 milhões de habitantes. E, naturalmente, os iraquianos não têm um número de telefone pelo qual possam chamar as tropas dos EUA. A segurança é um problema grave em Bagdá, mas não o único.

– O que mais queremos é eletricidade. As crianças estão com medo, a escuridão não é boa para elas – disse o gerente de banco Waleed Yagob Ibrahim, de 51 anos.

Para tentar reverter o caos, oficiais dos EUA e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha fecharam acordo nesta sexta para tentar restabelecer a paz na capital iraquiana. O acordo deve entar em vigor o mais rápido possível. As ações deverão ser realizadas por um grupo de pessoas escolhidas pelos militares norte-americanos e pela Cruz Vermelha. As primeiras tarefas do grupo deverá ser a reativação do fornecimento de energia, água e outros serviços para a população.

Na qualidade de representantes de um regime que não existe mais, os diplomatas iraquianos em todo o mundo entraram em um período de indefinição, que muitos deles encaram com confusão, irritação, resignação e preocupação com suas famílias deixadas no país. Em Brasília, a embaixada iraquiana queimou documentos. No Vietnã e na Venezuela, os embaixadores mantiveram as bravatas contra os invasores anglo-americanos.

Mas na maior parte das vezes eles vivem praticamente alheios à guerra, acompanhando o noticiário pela televisão, como o resto das pessoas. Há pelo menos duas semanas sem contato com Bagdá, o embaixador iraquiano na Organização das Nações Unidas (ONU), Mohammed Aldouri, foi a primeira autoridade do seu país a admitir publicamente que "o jogo acabou''. Ele continua participando de reuniões com o secretário-geral Kofi Annan e com outros diplomatas.

Mas segundo seus amigos, nos últimos dias ele está claramente estressado e quer voltar para seu país, pois está preocupado com a família.

– Não represento nenhum governo. No momento, represento meu país – afirmou Aldouri.

Enquanto os norte-americanos consolidam seu controle sobre Bagdá, o embaixador iraquiano em Caracas, Taha Al Abassi, previu que a resistência vai continuar.

– A guerra não acaba, acho que ela será uma longa maratona – afirmou.

No Vietnã, o embaixador Salah Al Mukhtar assumiu o cargo há apenas três semanas, e imediatamente disse que, se encontrasse seus colegas dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha ou da Austrália, daria um tapa na cara deles.

Nessa quinta, ele manteve o tom:

– Nunca vou apertar a mão de assassinos. Nossa pátria foi destruída por britânicos e norte-americanos.

Em Brasília, diplomatas foram vistos queimando documentos no jardim da embaixada.

– O que eles queimam é problema deles – disse um porta-voz do Itamaraty.

Pouco antes de a guerra começar, os EUA pediram a cerca de 60 países que expulsassem os diplomatas iraquianos em seu território, mas só alguns poucos atenderam. A Romênia, que expulsou cinco diplomatas, disse que ainda não tomou nenhuma decisão sobre os demais. Já as Filipinas estão em dúvidas se devem aceitar as credenciais de um embaixador iraquiano recém-nomeado. As informações são da agência Reuters.

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